segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Sobredose

-Você está pronta?

-Não sei...

-O que está faltando?

-Coragem...?

-Você sempre foi tão corajosa

-Nem sempre somos tudo que costumamos ser

-Eu preciso que você faça

-Eu sei que é preciso, mas não sei quero

-Por quê?

-Porque é difícil matar alguém que ama

-É só puxar o gatilho, você já teve essa vontade antes

-Vontade não é a mesma coisa de estar prestes a fazer

-Então por que pegou a arma?

-Porque eu não agüento mais

-Acabe logo com isso

-Cala a sua boca, é menos doloroso sem ouvir tua voz

-Não chora

-Odeio quando me pede isso

-Você está chorando

-O que importa?Você nunca ligou

-Mentira

-Dissimulado!

-Eu não tenho nada a fazer, não vou lutar contra você

-Você quer isso ?

-Não deve ser tão ruim, a dor de uma vez

-Depende de como eu vou fazer

-Teria coragem?

-Eu sempre fui tão corajosa

-Mas nem sempre somos tudo que costumamos ser

-Odeio quando você faz isso

-Dissimulados, diria eu.

-Eu te odeio

-Não, não odeia

Levantei e peguei a arma da mão dela. Ela chorava e me abraçou. Fizemos amor, ela me olhava daquele jeito perdido, não era mais ela, estava bem longe, mas gemia incontrolável quase dentro da minha boca. Eu não estava dormindo ainda, quando ela repetiu umas sete vezes “eu te amo” sussurrando no meu ouvido.

Na manhã seguinte ela não estava na cama. A encontrei no banheiro deitada no chão gelado, com vidros de remédios jogados no chão, uma seringa e a borracha prendendo a circulação forçando a veia do braço. Estava sem pulso. Estava morta

2 comentários:

  1. Cacetada Jar, foi um de meus textos preferidos AIRAIR. Muito muito bom mesmo *o*

    ResponderExcluir
  2. Cacetada MAD!! hahaha gostei do Cacetada!

    ResponderExcluir

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.