PART I
Respira, respira. Liguei pra você e nem ao menos sei o que
dizer. Apenas me desculpe por não querer tanto algumas horas e em outras te
querer a todo custo. Antes de pegar
nesse telefone, te imaginei ao lado da minha cama. Então eu te surpreenderia e
você gritaria o meu nome e não seria por raiva. Não sei bem o que acontece
quando o assunto é apenas eu e eu mesmo. Um dia quem sabe eu consiga frequentar
algum médico que saiba do meu caso melhor dos que já passaram. E a culpa não
foi de um ou de outro, foi apenas minha.
Sussurro no teu ouvido como gostaria de ouvir. Mas a minha mente sempre
está a frente e nem sei como pensa tanta coisa ao mesmo tempo. Eu preciso de um
lugar para descarregar os sonhos e os pesadelos. Para ser quem eu sou ao
extremo, sem medo do desespero ou da angustia. E o que eu não sou também.
Porque nós não somos todos os nossos pensamentos. Estarei rodopiando e fazendo
a dança da chuva mesmo sem chuva. Estarei cantando Frank Sinatra em pleno
século 21.
PART II
Mas respira, respira. Eu ainda não liguei pra você e também
nem poderia me atender, se fosse o caso. Eu gosto mesmo de dizer olhando pra
você e sem que você ouça me comunico com teu espírito. Sua alma me ouve, pois
ela se ilumina em seus olhos. E sorri pedindo que eu a envolva, assim faço.
Então não precisamos dizer nada, quando tudo é dito em um beijo. Mais puro
desejo. Mais sujo desejo.
Tua boca sangra e eu me alimento da tua envoltura. Satisfaço-me
transmitindo, desejo sujo, amor acima de tudo. Se alimente da minha loucura,
junte os pedaços de insanidade, mas jamais cole no painel são. Vá se alimento
do meu liquido alucinado, mas não queira me entender. Nunca tente me entender.
Engula-me, me devore, mas não me entenda.
Decifrar um louco não é tão fácil. Minha loucura grita. Quero-te
gritar. Gritar no meu, quero. Gritar dentro da sua boca. Explodir, manguaçar,
eu quero liberdade acima de tudo. Somos pássaros livres num mundo imperfeito
por fora e perfeito por dentro. Inteligível a sua catástrofe, á sua natureza.
Sou vento, furacão, sou fogo, vendaval, chamas, faíscas.
Fogueira que apaga e acende de novo, interminável. É o
desejo de sugar tua alma, teu coração, teu sexo, tuas expectativas, tuas exclamações,
teu “eu” em “mim”.
Vou exorcizar teus demônios, fazer entender tua vida, tua
trajetória. E saberás o porquê de estar aqui. Sou muito maior do que vê. Sou um
gigante, brilho intenso. Sou tudo e todos, pra ti, na rua, em casa, no seu quintal.
Sou sua mente, mente, delicio-me. Vingança só faz meu tipo quando estou sobre
teu corpo na cama. Então irei te fazer sofrer com o prazer que é causar dor e
rir.
Transtornei-me, me embriaguei em lembranças ocorridas e/ou
não. Fantasias de céu e inferno. Se endivide. Eu não ligo. No fim, terás que
pagar de qualquer jeito e o preço será caro.
PART III
Mas por agora largo o telefone, levanto da cama e ando sem
roupa pela casa. Apenas questão de tempo para estar debaixo da água. Não a que
caí la fora... Ainda não quero purificação de Deus, não enquanto eu não te passar meus pecados para pegá-los de volta depois. Transmissão sanguessuga. Cuide de mim porque eu não estou aguentando comigo mesmo. Estou sendo exprimido, preciso soltar. E tem que ser em você. Bem em você.
Pleasure and pain