Mensagem recebida, o beck queimando entre os dedos, a fumaça subindo enquanto o mar murmura lá embaixo. O som das ondas e sua voz na minha cabeça, me chamando de qualquer jeito, ecoando como se você estivesse aqui. Seus sussurros de além sempre batem forte, como sempre. Acendem uma chama que não explica, que só queima. Penso na cabana, na porta entreaberta, no café quente, no seu corpo esperando o meu. E, caralho, eu quero ir. Quero pegar a caminhonete agora, jogar tudo pro alto e te encontrar, deixar rolar como a gente sempre faz….
Mas hoje… hoje não dá. Olho pra caminhonete parada ali, a chave no bolso pesando como uma promessa que não posso cumprir. Tem um peso aqui, uma merda qualquer que me prende… trabalho, promessas que fiz pra outros, pra mim mesmo. Não é só distância, é essa corrente invisível que me deixa plantado. Quero te dizer pra esperar, que vou chegar, que dessa vez eu fico mais, como você pediu. Mas as palavras não vêm. Não hoje.
Apago o beck no corrimão, a brasa morrendo com um chiado. Levanto, o céu preto me olhando como se soubesse de tudo. Entro em casa, fecho o portal da varanda, e o silêncio engole o resto. Você tá lá, e eu aqui, preso, querendo mas não indo. Como sempre acaba sendo.