segunda-feira, 28 de julho de 2025

Na varanda- Part 2

 Mensagem recebida, o beck queimando entre os dedos, a fumaça subindo enquanto o mar murmura lá embaixo. O som das ondas e sua voz na minha cabeça, me chamando de qualquer jeito, ecoando como se você estivesse aqui. Seus sussurros de além sempre batem forte, como sempre. Acendem uma chama que não explica, que só queima. Penso na cabana, na porta entreaberta, no café quente, no seu corpo esperando o meu. E, caralho, eu quero ir. Quero pegar a caminhonete agora, jogar tudo pro alto e te encontrar, deixar rolar como a gente sempre faz….

Mas hoje… hoje não dá. Olho pra caminhonete parada ali, a chave no bolso pesando como uma promessa que não posso cumprir. Tem um peso aqui, uma merda qualquer que me prende… trabalho, promessas que fiz pra outros, pra mim mesmo. Não é só distância, é essa corrente invisível que me deixa plantado. Quero te dizer pra esperar, que vou chegar, que dessa vez eu fico mais, como você pediu. Mas as palavras não vêm. Não hoje.

Apago o beck no corrimão, a brasa morrendo com um chiado. Levanto, o céu preto me olhando como se soubesse de tudo. Entro em casa, fecho o portal da varanda, e o silêncio engole o resto. Você tá lá, e eu aqui, preso, querendo mas não indo. Como sempre acaba sendo.

Na varanda- part 1

 Sento na varanda, o cigarro entre os dedos, a fumaça subindo lenta enquanto o céu preto engole tudo. O mar tá lá embaixo, quebrando na praia, mas nem presto atenção. Tô mexendo nessas caixas velhas, fotos daquele site antigo que parecem de outra vida. Você e eu, dois refugiados fazendo história, aparecendo e sumindo, como se a gente nunca soubesse ficar. Eu vejo aquela foto sua, o cabelo bagunçado, cara de marrenta, o sorriso que dizia mais do que você falava. Sempre foi assim, né? Seu silencio…E a gente se encontra, se devora, e depois some, como se fosse proibido ficar.


Você ativa o sinalizador e eu sei que você tá na área. Você sempre volta pra lá, pro cheiro de madeira e pras lembranças que a gente deixou. Eu sinto o peso do que você escreveu, como se suas palavras tivessem o mesmo calor que seu corpo quando encosta no meu. Você fala de saudade, de desejo, de um vazio que parece gritar. E, cara, eu conheço esse grito. Meu corpo também lembra de você, da sua pele, do jeito que você se entrega sem dizer nada, só com aquele olhar que me puxa e não solta.

Tô aqui, enrolando esse cigarro, pensando na temperatura da água daquele lago, no seu rosto pedindo pra eu ficar. Eu fui embora, como sempre, porque sumir é o que a gente faz. Mas se eu te contar que tô com a chave da caminhonete na mão, pensando em pegar a estrada agora mesmo, você acredita? 

Se eu entrar por aquela porta, não vou fingir também. Vou te olhar, te puxar, e deixar rolar. Como sempre foi. Como sempre acaba sendo e depois a gente some…