sábado, 30 de junho de 2012

Emboscada

(Texto fictício)

Brincava com a faca ameaçando os próprios dedos, o olhar perverso causado por todo ciúme que havia lhe tomado. Uma ligação foi o bastante para isso. As palavras de sua amiga não saiam de sua cabeça e agora o telefone celular estava tacado a pia cheia de agua junto a louça por lavar. “-Ódio!”. Bateu na mesa com a mão fechada em forma de soco rancoroso, rangeu os dentes e rosnou. Como perdoar uma traição dessas?! Que afronta! Só de pensar que não teria atendido aquela ligação senão tivesse com tanto tédio. Sua amiga só ligava para falar dos outros e opinar na sua invejável vida. Logo agora com tantos problemas, havia recebido uma apunhalada e um milhão de promessas quebradas.

Suas narinas estavam inquietas, a respiração de fogo, soltou um grito desmiolado e agora foi a faca marcando a mesa de madeira com força. Saiu da cozinha deixando o belo  cassoulet  na panela aprontando e a faca em pé na mesa. Não conseguia pensar mais em nada. Nada mais lhe podia chamar mais atenção agora do que sua honra, não poderia se dar por vencida, tinha que tomar uma atitude, mesmo que fosse drástica.
 Entre as escolhas; matar e morrer, seria matar com certeza. Mesmo que isso custasse nunca mais ter seu amor de volta. 
Foi até seu quarto quase todo de vidro, passou o olhar sem ver nada, já impaciente com as idéias tortuosas. Sentou à cama e abriu a última gaveta, só ela sabia, o fundo falso. Retirou a arma de lá e carinhosamente a acariciou. “Tudo vai ficar bem, honey”. Lembrou-se das palavras de amor, dos votos feitos ao vento, as eternas adorações. “Balela!” gritou. “Eu sempre seria sua garota, sempre...”. Estava vestida como devera e um súbito pânico a sufocou. Seria culpa a vir depois que cometesse um assassinato por impulso ou por um coração partido? A verdade é que ela nunca parou para ouvir, nem nunca quis saber das verdadeiras causas. O fruto nasceu podre!Elimine-o! E não queira saber o porque da arvore está servindo frutos assim.

Sua saúde não era das melhores, ainda tossia pela recente tuberculose. Toda sua fachada absurda não era tão falsa assim. Enterrou suas emoções dentro de si. Mas tao profundamente, que não conseguia senti-las. Seu olhar implacável de qualquer sensibilidade sempre demonstrava confiança mesmo que fosse a mulher mais insegura. Se mantia de pé, ali, firme, dura, dentro de si. Mas que escândalo lá trancado em seu âmago!
Ela não tinha idéia por onde começar, mas isso logo se resolveria, cega por vingança. Sem auxilio emocional continuou, cortando matos sem medo de ferir algum animal na grande floresta que a separava de seu destino. Suas pernas seguiam a comando do cérebro e o coração preferiu fechar os olhos, não conseguia vencê-lo. Não agora.
Parou a mão na maçaneta e abriu com cuidado. Seu olhos choravam sem que percebesse, reserva quente no meio de tanto gelo. Era apenas uma mulher machucada com coração esperançoso partido. Apesar de saber que sempre teria seu lugar, estava fora de estar a salvo.
Sabia que sua presença acabaria com qualquer tempo ruim e bom também. Sabia que mandaria para prisão, porque ele se renderia. Um motim de agitação inaguentável .
Observou enquanto identificava o problema, olhou bem nos olhos que ainda era tão condicional a si. Fazia-os brilhar, mesmo que não quisesse. Fazia ser acima de qualquer coisa mais mundo que o mundo podia se tornar, era acima de um espetáculo de maravilhas e terror. Sentiu vontade de cuidar, mas não assumiria. Seria com elegância que lhe cortaria a veia jugular deixando sangrar até a morte. Seria assim seu emergido fim. Aliviaria seu próprio nome dos tabloides, mesmo sabendo que não há crime perfeito.

"Tirem-me tudo e assim eu recomeço"
Em sua mente já havia matado mil vezes, mas ele insistia em conversa, em tentativas complexas. Ela se perguntava onde estava a placa de metal que implicava com a atração das palavras doces, da armadilha dele. Gritou por ela incessantemente. Então resistiu e o coração calou-se, esperou até o momento e assim fez, honey por honey. Era melhor cortar o mal pela raiz de uma vez e chorar o luto também de uma vez, do que persistir no erro e doer lascivamente.
Assim se livraria das palavras de veludo em seu ouvido, do toque falso porém carinhoso. Se livraria das ameaças . Foi isso que fez para deixá-lo em paz, mesmo existindo em prol de sua vivência. Pelo que lutar? Vagar por caminhos até que talvez ressucite .
Vagar até tocar um minimo de felicidade que tinha.
Voar.. Apenas voar até outra emboscada.

"Aqui eu te deixo, amor, para uma próxima vida quem sabe. Um próximo momento em que eu e você sejamos imbatíveis de uma vez por todas. Uma vez que suas promessas não sejam como uma obra sem vigas."

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