quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Three shots, love and betrayal

Então esse é o fim? Aqui no chão com três tiros no peito, misturo amor com vergonha. Isso é hora de morrer? Melhor assim, penso por ter que encarar aquela por quem sinto vergonha. Minha vida já estava acabada ali e morrer talvez tenha sido um acalento de Deus.

Eu não era pra ter ido ao encontro. Era como encontrar com o diabo. Levei a corda para me enforcar, era o desejo incontrolável. Só pensava em seu rosto, em como encontraria suas feições. Era o ultimo dia de minha vida e eu só não sabia que era literalmente.

Quando avistei o loiro iluminado pelo poste senti bater mais forte. Ela se virou e seu rosto era sério. Eu não me senti sério, mas minha fronte estava enrugada. Estava flutuando, mas os passos eram pesados para as pernas que formigavam. Já estávamos de frente um pro outro e eu nem percebi o carro do outro lado da rua. Não merecia ser fotografado naquele momento. Era uma noite que eu pretendia excluir como a outra no sofá. Eu queria conter, mas não. O beijo foi forte e se eu soubesse que iria morrer teria feito amor ali mesmo, na calçada de seu prédio. Ou talvez nas escadas onde subimos nos beijando. Ou em sua porta onde tiramos as primeiras peças de roupa.
Ela dizia eu te amo em silencio, eu ouvi e respondi com um gemido. Me fez sentir como se eu tivesse em outro plano. O pecado, o proibido, a vontade sem vinho. Tão sóbrio de álcool e tão bêbado de desejo. A fiz sentir do mesmo jeito e ela me agarrou com as pernas para que eu não saísse mais dali. E chegava a gritar. “ Como amo sua loucura”.
Havia alguma música, algo que nos embalávamos ao momento, um tanto instrumental, uma orquestra suave. Era a minha sujeira de sempre com quem me fez matar a inocência. Eu tive certeza: Não tenho jeito. Sempre acabo em suas mãos, sempre morto por você no final. Uma satisfação sem igual é ouvir realmente da sua boca com som “eu te amo” depois do amor. Mas se eu soubesse que eu iria morrer e não teria outra chance de dizer, eu diria o mesmo.
Sei que riamos quando a porta se escancarou. Teu  pecado descoberto e bem que tentou me proteger, mas com quem estaria na cama senão comigo?  Flagrante não é muito bom, ainda mais nessas condições. Ele se segurou para não atirar ali mesmo e nem pretendia, iria embora sem matar ninguém pelo menos não literalmente. Mas ela me mandou esperar e foi atrás. Um passo para minha morte e quem sabe a dela.
A mão em teus pulsos não parecia bem agradável e tão pouco o balanço de corpo que te proporcionava. Agressão. “ Solte-a agora!” não podia assistir aquilo e fica escondido no quarto não podia permitir assim como nunca permiti. Tudo que ele queria partir pra cima de mim. “ se vestiu rápido” Não pensei em agressão, mas ele se garantiu na arma escondida e a jogou na parede, foi o bastante. Três tiros no meu peito e um na cabeça dele dado pela passageira do carro do outro lado da rua que gritou quando fez. Ela nunca havia pego numa arma, mas atirou assim que o cara atirou em seu amor. “Você não..” A ultima pessoa que eu queria que visse essa cena toda.
O tiro foi certeiro, ele caiu na hora e eu ainda fiquei morrendo com sangue na boca. Ela só pediu “não morre, eu te perdoo”  Perdoar? Como? Não era possível. Agora meu pecado em flagrante, não tão flagrante, mas era flagrante e o que eu ouço? Eu te perdoo.. Será que era porque estava morrendo. Até nessas horas ela me admira, difícil admitir que nunca a amei de verdade, difícil porque ela sempre mereceu. Acho que vou morrer melhor com esse “eu te perdoo” Mas quando não se perdoa, se aceita perdão pelo que você mesmo fez? Acho que não. Eu disse “não tem jeito, eu tô morrendo” Ela gritou “não” A outra estava em pé  me olhando, se bloqueou ao chegar perto, mas tinha o celular no ouvido. Ambulância não chegaria a tempo . Agora foi minha vez de dizer em silêncio e ela entendeu, sim, entendeu. Então eu pude morrer assim com os olhos escancarados azuis direto pra ela, apenas desviando um pouco quando perdi todos os sentidos.
A vida é uma só. A vida é essa. Você nasce, cresce, tudo fica difícil, você ama. Faz, se arrepende, faz de novo. Você é humano, é falho, é ignorante e tem um momento da sua vida que sempre se acha Deus, mas não é. Você não é Deus.  Você ama e mesmo assim você trai. Você se arrepende e mesmo assim você faz. Porque não achou sua completude. Seria mais fácil fugir, mas tudo vai atrás de você.

Fiquei olhando para as duas chorando e pensando que merda que eu fiz. Elas se sujando com meu sangue . Então pude ver o outro tão perdido quanto eu, sendo levado comigo por mãos de sombras, vamos para o inferno juntos. Mas eu tampouco ligava para isso. Lá não tem armas para se garantir. E os fantasmas serão muito mais reais. O arrependimento e a culpa, a magoa e o amor. Tudo vira fantasma. E aí você precisa viver de novo para consertar tudo , fazer tudo outra vez. Na verdade, danar tudo de novo de outro jeito.

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