quinta-feira, 13 de novembro de 2014

César

Um mico literalmente, um mico. Me chamavam de César. Pulava de galhos em galhos com as magistrais cambalhotas. Feliz debaixo do lenço azul. Saúde era o verde das plantas, o florescer, os frutos. É sentir que é importante para alguém tanto quanto esse alguém é importante pra você.
Estava protegido a noite e os assobios em vão não mais me assustavam. “Eu te amo” e um beijo na testa era o que eu costumava ter todas as noites. Acalentado por ela. Eu era dela e não dele. Ele era um intruso que eu aprendi a gostar.
Ele era bom, me ajudou em uns labirintos da vida. Ele foi bom á curto prazo. Até sua mascara derreter a face. Afinal a atenção dada a mim deveria ser toda dele por direito.
Entrou uma época difícil. Guerra por um lugar, fome, violência. Então ele tramou tudo. Iriamos pular direto na água e atravessar até a casa que precisava de reforma. Viveríamos lá seguros, pintaríamos a casa de verde e branco. Teria detalhes feito por uma família. Ela pularia primeiro, depois ele me ajudaria e pularia comigo, mas ele esqueceu dessa parte. Ele pulou sozinho.
Lembro de vê-la com seu rabo de cavalo ainda seco atravessando para o outro lado. Não tinha perigos, a água era azul, o dia era bonito. Ele me olhou pela última vez e pulou atrás dela. “Ei, eu não posso voar. Eu não consigo ir sozinho.”
Assisti a casa mudar, reformar. Estava sozinho e meu estomago embrulhava, eles estavam demorando a voltar e provavelmente nem voltaria.
Demorou a cair minha ficha. Resignado. Aprendi a viver sozinho na mata. A fome pior era do amor dela. Aquele que ela me acostumou. Será que não notara que eu estava aqui e não fui? Dava tudo para entender o que aconteceu.
“Simplesmente aceitou” disse o forasteiro. “ Eles se esbarraram com macacos em um circo proximo na cidade. O olhar dele preocupado a tomou, mas ela abaixou os olhos e quis desfocar.”
Ela não voltou por mim nunca, apesar de eu estar esperando até o ultimo suspiro. Uma ilusão que eu criei.


Até onde vai a ganancia? Até onde vai o ciume? E o egoismo? O medo de perder... De não sobrar mais nada pra você...  
Qual a parte que todos entendem que há espaço para todos?
Até onde vai o comodo de apenas ficar e ir levando?
Quão verdadeiro é um dito de amor e um ato?
Até onde vai a manipulação de uma pessoa sobre outra? Até onde deixamos tomarem conta da gente?
Será... Será que ela sabia que eu estava vivo?
Até onde vai o caráter de uma pessoa que mente olhando em seus olhos? E até onde podemos acreditar em tudo que dizem mesmo vindo da pessoa que você ama?
Eu só sei que morri sozinho e eu tive aceitar.

Quem sabe outras teorias expliquem o fato verdadeiramente de sofrer por um motivo e de morrer por todos eles, só para poder nascer de novo.

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