sábado, 9 de agosto de 2025

Finjo que somos amigos

Eu finjo que somos amigos, como se eu não reparasse como olha pra mim, como se eu não tivesse sentido o peso do teu silêncio pelo meiado do ano. Finjo que não existimos mais, que o nós que construímos em noites febris e promessas quebradas virou cinza. Eu faço isso pra não te perder, e você continua aqui, entranhada no café das sete da manhã. Mas eu não tenho nenhum plano dito, só pensado. Viver da ilusão criada é bom porque vira pó a qualquer hora que queremos e não precisa ter conversa séria no fim e cada um ir pra um canto como um filme de drama cabuloso. 

Ouço tua voz naquela mensagem de fevereiro,  quando você disse que quase não aguentava mais e iria transbordar, que eu era demais, que nós éramos demais. Aquela tua voz tremendo, falhando, mas ainda me puxando pra dentro. Como se pudesse suportar até duas “piadas” de mim.

E eu ouço as de abril, onde eu, idiota, gritei que acabou, que não dava mais, mas um “oi” foi suficiente pra tudo virar de ponta a cabeça, presos nesse looping doentio. 

Você dorme no outro quarto, e eu entro de madrugada, pisando leve, fingindo que somos só amigos, como se não gritasse pra te arrancar dessa mentira. Tua boca tem um plano pra mim, os livros estão no chão e um cinzeiro quebrado, me engole vivo, e eu me entrego, você pede mais mesmo sabendo que é veneno. Continuaremos fingindo amanhã, mas hoje não. Tuas unhas arrastam forte na minha pele marcando território, então te levo direto pra armadilha onde teu corpo bate contra a parede e ponho fogo em você. Não queria dizer, mas sou viciado no teu jogo de pernas.

Te vi sem maquiagem, te vi em sete trocas de roupa, te vi nua de verdade, com cicatrizes que contam histórias que só eu sei ler. Você  me viu em todos os meus riscos, tatuagens, cada linha, cada erro, cada promessa que nunca te fiz em voz alta. Mas você me deixou num canto quando eu mais precisei, fingi que não entendi o que você queria dizer com aquilo. Era mais fácil te culpar do que assumir o que tá dentro. No outro tempo, eu te neguei quando tua insegurança me pediu ajuda, quando o chão sumiu e você  ficou só com o eco do meu nome. Porque eu sei desaparecer quando quero dar fim ao episodio. E mesmo assim, você ficou aqui, impregnada no ar e no café das 15:00.

Meus olhos não saem da direção do sol, você reclama que a luz está forte demais, mas continua olhando. E esse presente nos foi tirado porque pecamos um dia. E agora você está dormindo comigo, mas depois eu tenho que ver o que tem do outro lado daquela porta. O sol foi embora e eu deitei naquele outro lugar. Precisamos fingir que nós somos só amigos. .

Minha cabeça é um moinho, um caos que gira e destrói tudo, menos você. Não quero outra garota, nunca quis, aqueles passeios foram só fumaça, tentativas patéticas de te apagar e te encontrar em outra avenida. Vou fingir que somos só amigos. Nós dançamos em janeiro, mas você reclama que a luz tá forte demais, eu sou intenso demais, eu sou frio demais e ainda assim continua olhando, continua me puxando de volta, esperando a nova máscara de horrores. Eu não queria dizer, mas você é viciada no meu jogo vicioso.

 Somos um pecado, um erro que o universo não perdoa? Por que nos fizeram com as mesmas molduras se a arte não convive com tanto caos? E é  por isso que nos arrancaram um do outro. Mas eu te vejo dormindo ao meu lado, e sei que você vai gritar de novo, e eu vou deitar em outro canto, fingindo que somos amigos, que isso é suficiente. Nós somos só amigos.

Quem estraga mais? Eu, com minha mania de fugir, ou você, com teu jeito de esconder o que sente atrás de portas fechadas? Eu falo assim, mas sei que fugir e esconder é coisa que os dois fazem. Eu quis dizer “te amo”, mas você saiu correndo, como se um momento calmo fosse uma granada. Então finjo, finjo que somos amigos.

 Finjo que não  sinto quando teu coração dispara quando abraço você, e que o meu não sangra toda vez que tenho que te mandar embora. Mas eu sei que tudo é uma fachada. É um incêndio daqueles provocados só pra acabar com tudo e no final a gente vê que nem era fogo de verdade. É uma guerra que nenhum de nós sabe vencer. E mesmo assim, eu não consigo parar de te chamar, de te procurar, de te encontrar em cada canto escuro do corpo de outra pessoa.. . Eu sei muito bem que eu não posso fazer dar certo com niguém. Então é melhor fingirmos que somos amigos que será melhor assim. Eu finjo que somos amigos. 

sexta-feira, 8 de agosto de 2025

Um sussurro pra você

 Nunca vou esquecer, e todo ano, quando essa data chega, a dor se esconde em mim semanas antes, disfarçada de cansaço e desanimo, de um vazio que não explica. Aí eu lembro de você. Outro dia, vi seu rosto numa mulher na rua, o mesmo jeito de inclinar a cabeça e de mexer no cabelo, o mesmo brilho fugaz nos olhos. Foi como se você tivesse vindo me visitar, sem aviso, só pra me fazer sorrir por um instante. Hoje, porém, a tristeza pesa mais. Logo mais, seria seu aniversário , aquele dia que era o melhor dia do ano pra você. Você sempre insistia tanto nos presentes, nas coisas palpáveis e materiais, como se elas fossem prova de algo maior. Mas de que adianta? As coisas ficaram aqui, empilhadas em silêncio, e você... você virou uma saudade que não cabe em mim.


Às vezes, sinto você num vento que cruza, num cheiro de feijão que tentamos fazer igual, naquele enfeite que mantenho até hoje na janela, ou numa música que toca do nada e me faz parar. Não digo isso em voz alta, porque parece loucura, mas é como se você ainda rondasse, deixando pedaços de você em coisas que não explico. Queria ter dito mais, mãe, coisas que guardei por achar que haveria tempo. Queria ter te abraçado mais forte, perguntado mais, ouvido mais. Hoje, escrevo pra você, sabendo que não vai ler, mas esperando que, de algum jeito, você sinta. E eu sei que sente…

Te amo, mesmo que o mundo não veja, mesmo que as palavras não cheguem. E, de algum lugar, sei que você sabe por fluidos, pensamentos ou coisas assim. 




sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Por do sol

 Por que sinto que tudo isso logo será apenas uma memória? Não sei quanto tempo estarei aqui, mas sei que um dia olharei para trás e tudo terá passado. Às vezes, parece que observo, mas não enxergo de verdade. Será que é possível aproveitar tudo plenamente o tempo todo? Ou será que sou eu, mais uma vez, me sabotando? Talvez uma parte de mim acredite que não mereço isso, não por muito tempo… afinal, tudo tem um fim.