sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Encurralados



Meu nome, Mary Lou. Apenas isso, não precisa de mais sobrenomes, então, Mary Lou.
Há coisas que não entendo e isso acaba morrendo comigo mesmo porque não vale a pena espalhar uma coisa que sei que vai ser banal para os outros e não é pra mim. Por isso digo que as vezes, ou melhor, muitas e muitas vezes é melhor lidar bem com o silêncio. 
Eu não tinha essa tática, mas com um tempo e muitas porradas da vida você aprende, não tem como.
Bem, ontem fui a minha antiga escola, não por mim, pela minha irmãzinha. Precisaríamos  fazer uma falcatrua qualquer para tirá-la de lá e não ser descontada em presença. 
Minha cabeça roda um pouco depois da pancada, mas eu me lembro que subimos as escadas e fugimos de umas garotas, lembro que passamos por alguns e ainda chegamos a conversar, aconteceram algumas coisas antes de subirmos, mas a porrada foi forte e estou danificada.
Estavamos fugidas e lá vinha ela, Isabel, a professora de matemática. Me abraçou, para minha surpresa e disse que estava com saudades. 
"Pois é, eu prometi e não vim mais não é?" sorri. "Sim" . Ela parecia mais carinhosa que o poço de secura e deboche que ela costumava ser. Mas os cabelos eram os mesmos, amarelos de doer presos em grampos. "Ainda me lembro da história da bissetriz " Rimos juntas e comecei a contar meu histórico falho de cursos e faculdade. Depois de uma boa conversa, não era mais ela, era outra pessoa e alguém que não me recordo. Estou mal mesmo e nesse momento sinto uns latejamentos. 
Espalhadas por uma sala quarto, na escola. O assunto agora era Daniele. " Em nunca a esqueci, eu sempre sonho com ela. Tive o telefone, mas quando liguei ela não estava em casa". A pessoa meio cabreira, mas querendo ajudar me passou o numero, fiquei feliz por tê-lo. " Ela está morando agora numa comunidade" ela disse.
Anotei o numero 78** - *828. Falhou-me a memoria novamente...
Peguei a anotação e meu telefone celular, virei o corredor e sem perceber a agitação fui empurrada. "Dean? O que está fazendo aqui?" Foi tudo muito rápido. Passei a ser coadjuvante, fui amarrada e sequestrada. Não tinha mais celular e nem número nenhum anotado. Fiquei cega com os olhos lacrimejados, estava assustada , encurralada. "Meu Deus, que lugar é esse?". Minha cabeça doía, Dean havia sumido e o homem que colocou-me ali dentro também. Eu poderia escolher um dos dois para me tirar dali, que seja Dean, porque mesmo com sua loucura inédita, seria incapaz de me machucar. Estaria eu sendo vitima? Porque eu?

As perguntas deviam estar em furação  na cabeça dela. Que diabos ela estava fazendo ali? Eu sei cuidar de mim, mas cuidar de mais um é muito mais complicado. Eu teria que acabar com o jogo de gato e rato, eu teria que sair livre dessa mesmo que isso custasse vidas inocentes. O ajudante, braço direito do diabo estava atrás de mim. Depois de uma maratona e labirintos ele me achou, desgraçado! "Faz o seu que eu faço o meu, não temos as mesmas missões" eu disse.
"Mas você está em meu caminho. Você pode ser preferidinho, o filhinho sentado no trono. Mas eu ainda sou o braço direito!" Falou gritando com fúria de sobra e nesse mesmo momento apareceu diante a mim e segurando forte meu pescoço. Minhas costas deslizavam acima pela parede. Eu não podia morrer aqui por diversos motivos. Segurei em seu pulso que queimava, tanto que saia a fumaça da pele. Aquele cara não tinha mais alma e eu mal ou bem... Ainda queria a minha. O tal do amor pela liberdade.
"Você pode ser o que quiser. Tú sabes que eu não escolhi estar aqui. Como falou-me ontem. Foi tudo de mão beijada" Isso o irritou,ele largou meu pescoço quando eu dei com o joelho em seu estomago e claro que eu corri. Desci as escadas do prédio, procurando saídas. O ajudante sumiu e eu ainda tinha que achar Mary Lou. Todas as portas que abria ela não estava. Ouvi dizer que isso aqui era uma escola antes de ser um hotel barato. Mas antes de tudo era o local em que se faziam os 'acertos', os sacrifícios.
Essas paredes me dão enjoo, são todas brancas e de estrutura mal feita. Eu desci as ultimas escadas, era a portaria. O porteiro tinha acabado de se levantar e fui até as cameras em seu lugar, e as malditas cameras nada mostravam. "Mary...droga"
Um fiscal magricelo veio até a mim "O que fazes?" Eu inventei uma desculpa qualquer, disse que trabalhava no prédio e o outro porteiro pediu para que eu tomasse conta. Provavelmente ele iria reclamar e dar esporro no outro, mas não era bem o que eu pensava.O cara ficou com os olhos vermelhos e saiu rindo. "Cacete!! Está pior que eu imaginava" O outro porteiro voltou, era branco e tinha cara de bundão. Ele se sentou no lugar dele e perguntou o que eu estava fazendo ali em pé parado. Mas eu não respondi, não consegui. Descendo as escadas estava a minha figura grotesca que mais odeio com a minha única visão de paraíso em pele de porcelana. Ele a pegou, Mary Lou parecia estar dopada, quase morta, ele a queria de verdade, mas estava fazendo aquilo pra mim, aquele amostra de terror. Seus braços encapados com sobretudo enlaçavam o pescoço fragil. Eu fiquei cego, antes que o porteiro olhasse, saquei minha lamina e passei em seu pescoço. Morte silenciosa. O ajudante riu. E eu precisava correr. Tinha muito mais envolvido nisso. Eu precisava e eu corri, deixei Mary Lou em sua posse. Mostrei a moeda do protegido , aquele que não poderia ser tocado e mesmo sabendo que eu já era um, ele não sabia que era oficial. Em seu rosto formou-se a surpresa, seu queixo caiu. Eu sorri com sarcasmo e sai andando sem pressa.
Quando pensei em Mary Lou, eu quis fazer uma loucura e quis voltar, olhei pra trás e ela não estava lá. Então ELe falou comigo que havia a deixado ensanguentada no corredor, mas eu desfiz dela.
Minha tortura não poderia ser maior. Porque fui tão egoísta e cego? Eu não deveria..Eu não queria.
Era tarde demais e eu nem sequer voltei lá para conferir. Eu a amava, mas tinha muito mais em questão.
As lágrimas duraram pouco, se é que chorei. Pensaria em Mary Lou, mas nada poderia me impedir de seguir meu caminho.




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