terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Minha Zona de Perigo



Eu o vi entrar pela porta da cozinha. Estava na sala lendo um romance besta que já deveria ter largado há  tempos. Mas esse mesmo começou a não me ver deixar o tempo passar. Ele entrou pela porta da cozinha e eu estava distraído demais para ligar minhas antenas e correr para servir de escudo. Corria meus olhos pela leitura também para desprender-me do tempo que me sufoca. Sufoca-me por não ter algum poder mágico que me faça ter as coisas sob meu controle, a minha vista. Enquanto espero leio... e leio... e faço mais alguma coisa para preencher tempo. Leio.
Eu o vi entrar pela porta da cozinha de soslaio, eu o vi, mas estava distraído com o livro que me deixava cada vez mais esfomeado, uma comédia insuportável, mas conseguia achar alguma graça. E me dava fome de conhecimento pela sua extensão sobre assuntos policiais, um livro policial, justamente.
Eu o vi entrar pela porta da cozinha, de soslaio, eu o vi e não me alertei na hora, se tivesse feito teria evitado o desastre ou apenas visto os miolos de minha mãe se espalharem pela cozinha. Tremi ao som do tiro, me banhei em culpa depois da morte, do choro, do velório. Eu o vi,... entrar pela porta da cozinha e o vi sair do mesmo jeito, de soslaio porque não gosto de olhar em sua cara dura. O livro trágico que levei até o fim, até meu telefone tocar e dar fim da historia sem graça de terror envolvente. Eu o vi entrar, sair e deitar. Agora estou aqui e o telefone ainda não tocou, o livro ta largado e eu não sei mais o que fazer a não sei imaginar desastres e chuva forte em meio de sol quente, quando o que mais quero é tempo ameno, lugar escondido comigo e eu mesmo. Pelo menos chegou a tarde.. não quero pegar no livro de novo, um romance barato e repetitivo que pouco me faz pensar, apenas escapar das horas que me comem esperando um sinal.
Queria mesmo estar sozinho, abomino as vozes que vêem até a mim. Quero mais é silencio e natureza. Não quero ninguém que não seja eu e eu mesmo. Deixe me sonhar juntar a realidade com a minha cabeça, até que eu possa fugir por completo e não sinta as horas que me torturam. Deixa juntar o inferno ao paraíso, os segredos e as revelações, as certezas e as dúvidas. Estou a um palmo de um colapso ansioso. A quem dei o direito de tal infortúnio?
Ouvir musica sobre o sol quando parece só chover ignorando o tempo através da janela. Sol.
Minha mente é um túnel, estou protegido em minha própria zona de perigo.

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