Depois de muito tempo, depois de viver e depois de morrer,
eu vejo...
Que era ela que eu deveria ter colocado na minha cama e
chamado pra morar comigo.
Depois de tanta pancada do sol e depois de tossir
tuberculoso na minha própria fumaça, eu vejo. Quanto tempo eu perdi catando
moedas para entornar no bar mágoas que eu mesmo criei, se é que existiam. Só
sempre me embelezou os olhos ser ninguém, apenas ninguém.
Quanto tempo fiquei arrumando briga para expulsar o ódio de
ter tudo, me tornei rebelde. Eu tinha tudo, mas queria mais. Eles diziam isso,
mas não. Eu só queria um sol diferente do que aquele que nascia pra mim.
Ninguém poderia entender mesmo e eu disse “dane-se”.
Mas eu podia ter acreditado em você e ter te visto sozinha.
Eu podia bem ter reparado melhor no gênio que sempre foi. Eu poderia ter ficado
com você. Onde você foi? Eu seria alguém
melhor. Mas o problema era que eu não queria ser alguém melhor.
Agora estou aqui paralisado, vendo o tempo passar e não
posso me mexer nesse plástico, tão menos respirar... Eu não posso respirar e
nem vejo o sol nascer... Nem mesmo aquele que nascia todo dia e eu tanto
rejeitava..
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