quinta-feira, 11 de maio de 2017

Ela

Ela parece um mulambo. Descabelada e com roupas largas. Ela se arrasta e geme de dor. Ela está tão podre por dentro. Dos órgãos até os dentes. Seu sorriso me dá nojo e eu... Não consigo abraça-la. Ela está tão longe do que um dia foi minha heroína. Faz barulhos pra viver. Expelindo vitimismo, ela culpa todos ao seu redor por sua infelicidade, por seu fracasso. Ela tem muito amor dentro dela, sempre teve, e eu a amo tanto também. Deus, eu não consigo. Me sinto um ser odiável no fundo da cegueira e insensibilidade. Ela manda eu me foder, mas me carrega pela mão pra eu não cair. Ela segura todos pra sua ponte e acaba por cair na sua própria vaidade e rancor. Ela se tornou a magoa em pessoa e ela está tão velha e tão diferente. Ela não anda, ela rasteja. Ela não fala, ela grita. Pra ser ouvida, ela berra e sempre foi assim. Tem suas frases de efeito formadas há anos. Ela finge que chora e depois ri. Ela tosse como um arrancar de moto com motor ruim e geme alto pra você notar que ela tá sofrendo. Ela quer que todos vivam pra ela. Meu Deus, ela está tão infeliz e me deixa assim também.
As vezes penso que o melhor seria que ela se fosse. As vezes penso que eu não viveria sem ela. As vezes acho que ela é todo meu mal. As vezes acho que é a única coisa que me segura.
Ela se cansou de viver, mas continua vivendo e continua chorando. Ela está vivendo, mas está tão morta e desesperada pra ter um pouco de vida, ela suga a minha. Ela...ela... Suga a minha.

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